Governador, que ainda corre o risco de ser cassado pelo TSE, afirma que depois do Carnaval vai tomar a decisão sobre os próximos passos na política
Eugenio Goussinsky
Cláudio Castro pode se candidatar ao Senado | Foto: Flávio Mello/Conib
A operação policial nos complexos do Alemão e da Penha, em 28 de outubro, aumentou o cacife político do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), de 46 anos. Esta constatação foi feita por ele mesmo, dias depois que agentes ingressaram nos locais com mandados de prisão, para combater o narcoterrorismo.
“Sei que cresci politicamente”, afirmou o governador, dias depois da operação. Ele demonstrou que, neste momento, se sente mais confortável para analisar seu futuro político. Há chance de ele se candidatar a senador nas próximas eleições e apoiar o até então oposicionista Eduardo Paes (PSD-RJ), atual prefeito do Rio, para governador.
“Essa decisão deverá vir depois do Carnaval, tanto sobre o meu sucessor, quanto sobre minha vida política; a gente vai esperar realmente as festas de fim de ano, entender esse movimento, entender esse crescimento, o que é que é crescimento, qual foi o meu crescimento real, para aí poder pensar em algum projeto.”
Ele não descarta também tentar a reeleição.
“A gente não vai ficar diminuindo o tamanho que ganhei com isso [operação policial], mas vai trabalhar com humildade, com os pés no chão”, ressaltou o governador. “Veremos o que o povo vai precisar, o que o meu campo político vai precisar, o meu partido vai precisar, em relação a mim. Também sou uma pessoa flexível. Teremos agora um tempo para definir.”
A ação das forças de seguranças do Rio ocorreu ao mesmo tempo em que o governador corre risco de perder o mandato, em processo contra ele no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por suposto abuso de poder político e econômico nas eleições de 2022.
Ele também chegou a ser investigado pela Polícia Federal (PF) sob acusação de corrupção e peculato, relativa aos tempos em que foi vereador e vice-governador. O ministro Raul Araújo, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), porém, ordenou que o inquérito fosse arquivado. Castro e sua defesa alegaram perseguição política nas acusações.
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) André Mendonça também determinou o trancamento do inquérito, acolhendo argumento da defesa de que um depoimento contrário a ele foi feito antes de Castro assumir o cargo de governador.
Nesta nova etapa, uma característica na vida política de Castro parece se repetir. Sua ascensão sempre ocorreu sem um planejamento de longo prazo. Foi muito mais consequência de uma sucessão de fatos. Com uma dose de sorte e oportunidade.
Cláudio Castro na política
Quando Castro era criança, em Santos (SP), onde nasceu, em 29 de março de 1979, dedicava-se à música. Cresceu ligado à comunidade católica e começou sua atividade musical em paróquias. Participou de bandas e de atividades da Renovação Carismática e da Paróquia São Francisco de Paula, até se mudar para o Rio de Janeiro, ainda na infância.
Na Cidade Maravilhosa, que ele administra com a consciência de que é também perigosa, ele se formou em Direito em 2005 pelo Centro Universitário da Cidade do Rio de Janeiro (UniverCidade).
O governador porém, já havia entrado para a política, quando, em 2004 começou a trabalhar como chefe de gabinete do então vereador Márcio Pacheco. Em seguida, tornou-se chefe de gabinete na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), onde permaneceu por cerca de 12 anos, até se eleger vereador, em 2016. Teve, nesse período, experiência como assessor especial na Câmara dos Deputados (Brasília), em 2013.
Os anos de experiência na política fluminense o levaram a ser escolhido como vice-governador na chapa de Wilson Witzel, eleito em 2018. Acusado de corrupção, Witzel foi afastado e depois sofreu impeachment. Em 2021, Castro, então no Partido Social Cristão (PSC), tomou posse como governador e se reelegeu em 2022.
Todos os antecessores mais recentes de Castro no governo perderam seus cargos e foram presos. A instabilidade política do Estado foi determinante para o crescimento do narcotráfico, que levou à operação do último dia 28 no Alemão e na Penha.
Depois da ação, Castro manteve contatos com o governo federal e tem trabalhado em todas as vertentes legislativas para combater o narcotráfico: a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Crime Organizado, o Projeto de Lei Antifacção e a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública.
“Queremos reunir mais os governadores, sobretudo os que pensam parecido do campo da direita, para que possamos juntos tentar achar essas soluções que o Brasil tanto espera de nós”, disse o governador.
“Conversei com o deputado Hugo Mota [Republicanos, presidente da Câmara dos Deputados], sobre a ideia de que os governadores desses Estados participem da discussão da PEC, desse novo projeto antifacção. Podemos colocá-los [os deputados] muito dentro da realidade, sobretudo dentro da realidade dos Estados que mais têm esse problema de segurança pública.”
Durante a incursão da polícia, 121 pessoas morreram, quatro delas policiais. Cerca de cem pessoas foram presas. Mesmo com o processo do TSE, Castro diz que ganhou força. No momento, é o único governador do Rio que, nos últimos dez anos, não foi destituído. Nem preso. Até agora, ele só mandou prender.