RADIO WEB JUAZEIRO : 'A Síria ainda não é um país real', diz especialista em Oriente Médio



quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

'A Síria ainda não é um país real', diz especialista em Oriente Médio

A Oeste, professor Harel Chorev, da Universidade de Tel-Aviv, analisa tentativa de Trump de buscar um acordo entre o regime sírio e Israel

Eugenio Goussinsky
Ahmed al-Sharaa já lutou pela destruição dos EUA | Foto: Reprodução/Wikimedia Commons

No início da década de 2000, o saudita Ahmed al-Sharaa, então sob o nome de guerra Abu Mohammed al-Jolani, lutava no Iraque contra a ocupação norte-americana. Ele ingressou em um grupo que era afiliado à Al-Qaeda no Iraque (AQI), que mais tarde se transformou no Estado Islâmico.

Ele passou quase a vida inteira como um jihadista, incluído no mesmo grupo que orquestrou o 11 de setembro. Este homem, aos 43 anos, assumiu a Presidência da Síria, desde dezembro de 2024. Agora ele estampa um sorriso e cumprimenta com cordialidade o presidente Donald Trump, dos Estados Unidos (EUA), com quem se reuniu há algumas semanas. Em Washington, cidade que um dia seu grupo sonhou em destruir.

O que levou Al-Sharaa, já pela Hayat Tahrir al-Sham (HTS), dissidência da Al-Qaeda, a derrubar o regime do ditador Bashar al-Assad e se tornar o presidente sírio? Em parte, o cansaço em ser um andarilho da guerra, ameaçado de morte por todos os cantos dos desertos que ele percorria.

Há, para muitos, no entanto, uma convicção de que seu lado terrorista ainda está presente. Tanto que, enquanto o presidente sírio discute paz, milícias que ele diz não conseguir controlar atacam forças israelenses, segundo o governo de Benjamin Netanyahu, próximas das fronteiras. Extremistas do grupo Al-Jama’a Al-Islamiya lideraram os últimos ataques, na cidade de Beit Jinn.

“É claro que Al-Sharaa tem responsabilidade [por esses ataques a Israel]”, afirma a Oeste o professor Harel Chorev, especialista em assuntos palestinos, incluindo temas relacionados a árabes israelenses e ao Líbano, do Centro Moshe Dayan de Estudos do Oriente Médio, da Universidade de Tel-Aviv.

“Primeiro porque Al-Sharaa veio desses grupos, exatamente desse meio. Depois porque tem ambições de se tornar presidente da Síria. E todos sabemos: a Síria não é um país real ainda. Não controla todas as suas regiões, instituições nem territórios.”

Netanyahu, nesta terça-feira, 2, ressaltou que aceitaria um acordo com a Síria, desde que seja feito “de boa-fé e com compreensão”. Para ele, isso inclui a proteção do norte de Israel e das comunidades drusas contra qualquer ato de terrorismo ou hostilidade vindo do território sírio. Com tal exigência, Netanyahu desnuda a ambiguidade do atual presidente sírio.

“Mesmo assim, Al-Shaara veio deles”, prossegue o professor Chorev. “Portanto, se quer cobrar ações de Israel, precisa exercer autoridade e garantir que seus jihadistas não ataquem forças israelenses. Foi exatamente o que aconteceu. Na última ocasião, Israel foi atacado por jihadistas durante uma patrulha, após obter inteligência de que algo estava sendo planejado.”

A Síria e os jihadistas

Segundo o especialista, é importante o presidente Trump ter noção do terreno em que ele está adentrando, ao propor uma aproximação entre Israel e a Síria.

“Vejo um esforço concreto, mas os norte-americanos ainda não assimilaram plenamente que estão lidando com jihadistas”, alerta Chorev. “Jihadistas podem, em certos momentos, agir de forma pragmática, adotar decisões práticas, quase políticas, se quiser. Mas, no fim do dia, continuam sendo jihadistas.”

Netanyahu, com isso, precisa ter pronto sempre um plano B, segundo o professor. Só assim a situação poderá ficar minimamente sob controle. Israel, com isso, não pode perder as rédeas da situação.

“Mesmo que os norte-americanos consigam fechar um acordo de segurança, Israel terá de adotar medidas próprias. Algo que lhe dê margem para reagir caso tudo desande”, prevê o professor. “E o risco de desandar é alto, porque não dá para confiar plenamente em jihadistas.”

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