Jornalista deve comandar um talk show na emissora estatal
Mateus Conte

José Luiz Datena posa ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva | Foto: Ricardo Stuckert/PR
O apresentador José Luiz Datena aceitou o convite da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) para assumir dois novos programas no conglomerado estatal. Segundo informações da Folha de S.Paulo, ele comandará um programa semanal de entrevistas na TV Brasil e, além disso, apresentará uma atração diária na Rádio Nacional, das 8h às 10h.
O convite foi endossado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que recebeu Datena no Palácio do Planalto nesta segunda-feira, 1º. Os dois mantêm amizade há várias décadas, e Datena foi filiado ao Partido dos Trabalhadores por mais de 20 anos. A previsão é que o talk show televisivo estreie em janeiro.
O apresentador declarou que a vinculação da EBC ao governo federal não interferirá na linha que pretende seguir no programa. “Sempre fui independente, e inclusive enfrentei problemas por causa disso”, afirmou. “Não iriam agora me convidar para ser tendencioso. O meu papel será sempre o de jornalista, e todos sabem disso.” Em seguida, acrescentou: “As pessoas me respeitam pela minha independência, e vou seguir sendo independente”.
Datena afirmou que sempre desejou comandar uma atração desse formato: “É um sonho que tinha, de fazer um talk show”. Ao longo da carreira, ele se destacou em programas policiais, mas recordou que algumas de suas entrevistas mais relevantes envolveram políticos “de direita, de esquerda, de centro, com todos eles, sem partidarismo”. Entre os entrevistados já estiveram Lula e Jair Bolsonaro quando ocupavam a Presidência da República.
Além da TV, Datena ressaltou que o programa diário na Rádio Nacional também pesou na decisão de aceitar o convite. “Amo fazer programa de rádio, que ainda é um meio de comunicação fortíssimo”, afirmou. “É a versão de sempre, do amigo que está do outro lado te ouvindo.”
Atualmente na RedeTV!, Datena disse já ter conversado com o presidente da emissora, Amilcare Dallevo Jr., sobre os novos projetos profissionais.
Nova casa de Datena tem histórico de “traço” na audiência
A história recente da EBC evidencia um conjunto de dificuldades estruturais: custos elevados, baixa audiência e críticas contínuas ao modelo de comunicação pública adotado desde 2007. Dados operacionais e financeiros mostram que a estatal mantém grande estrutura, mas com alcance reduzido e forte dependência de recursos do Tesouro Nacional.
O custo anual de operação é de cerca de R$ 560 milhões, valor que já ultrapassou R$ 1 bilhão durante administrações anteriores. A empresa tem 1,8 mil funcionários, com salários que variam entre aproximadamente R$ 2,6 mil e R$ 48,5 mil, e média salarial próxima de R$ 11 mil.
Apesar dessa estrutura, a audiência permanece baixa. Na televisão, a média é de 0,2 ponto no painel Kantar Ibope Media, índice que consolidou entre críticos o apelido de “TV traço”, utilizado para acompanhar canais com desempenho próximo de zero. Ao longo dos anos, a programação incluiu transmissões completas da Série D do Campeonato Brasileiro, desenhos infantis, filmes antigos e séries de arquivo, como Vigilante Rodoviário, produzida pela TV Tupi na década de 1960.
As demonstrações contábeis mostram forte desequilíbrio entre receitas próprias e subvenção federal. Entre 2015 e 2019, o faturamento variou de R$ 40 milhões a R$ 85 milhões, enquanto a subvenção anual do Tesouro ficou, entre R$ 350 milhões e R$ 480 milhões. Em todos os anos analisados, o resultado operacional antes da subvenção foi negativo. Em 2019, por exemplo, o déficit superou R$ 330 milhões, revertido apenas depois de aportes federais.
O quadro de pessoal permaneceu estável nesse período, sempre acima de 1,8 mil empregados, enquanto os gastos anuais com pessoal oscilaram entre aproximadamente R$ 350 milhões e R$ 450 milhões.
Debates sobre o futuro da EBC atravessaram diferentes governos. Houve momentos em que se discutiu a possibilidade de extinção da estatal, substituída posteriormente por propostas de reestruturação ou enxugamento gradual, como planos de demissão voluntária e venda de ativos. No entanto, as ideias não saíram do papel.
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