Dissidente do regime chavista, a líder articulou denúncia de fraude eleitoral, enfrentou perseguições e reacendeu a oposição popular contra Maduro
Luis Batistela

Engenheira de formação, filha de um empresário do setor siderúrgico, María Corina começou sua luta política em 2004 | Foto: Reprodução/Instagram/@mariacorinamachado
O Comitê Norueguês do Nobel concedeu o Prêmio Nobel da Paz de 2025 à venezuelana María Corina Machado. O reconhecimento internacional veio pela sua atuação em defesa da democracia e pela articulação de uma oposição civil contra a ditadura de Nicolás Maduro.
Machado liderou uma rede de resistência que desafiou o controle chavista nas eleições presidenciais de 2024. Sua estratégia consistiu em mobilizar milhares de voluntários para vigiar urnas, coletar atas de votação e reunir provas de que Edmundo González teria vencido o pleito com ampla vantagem.
Em vez de fugir, ela permaneceu escondida dentro do país, mesmo com prisões em massa e acusações forjadas. Quase mil pessoas ligadas à sua campanha foram detidas. A ditadura chegou a acusá-la de conspiração e ameaça contra a segurança do Estado.
María Corina desmascara fraude eleitoral e desafia chavismo
O regime proclamou a vitória de Maduro, mas jamais apresentou os resultados oficiais. O Conselho Nacional Eleitoral alegou ataque hacker para justificar a omissão das atas — documentos exigidos por lei. Já a oposição, liderada por Machado, divulgou cópias recolhidas pelos fiscais, indicando vitória de González, com 67% dos votos.
Mesmo impedida de disputar, Machado venceu as primárias da Plataforma Unitária, com mais de 90% dos votos. A Justiça, controlada pelo chavismo, anulou sua candidatura e também vetou o nome da filósofa Corina Yoris, sua primeira substituta. Restou o apoio ao ex-diplomata Edmundo González, que se tornou rosto da campanha opositora.
Durante os comícios, a população gritava por liberdade. Em Valência, no Estado de Carabobo, milhares de pessoas lotaram as ruas e celebraram a presença da líder.
Trajetória de resistência pela democracia e pela liberdade
Engenheira de formação, filha de um empresário do setor siderúrgico, María Corina começou sua luta política em 2004, ao organizar um referendo contra Hugo Chávez. Dois anos depois, irritou o regime ao visitar a Casa Branca e se reunir com George W. Bush. Foi eleita deputada em 2010 e, diante do Parlamento, chamou a estatização promovida por Chávez de “roubo”.
Como resultado, a ditadura a perseguiu. Em 2014, perdeu o mandato parlamentar. O regime a acusou de envolvimento em uma conspiração para matar Maduro. Também ficou inelegível por 15 anos, sob acusação de omissão patrimonial — nunca provada.
Mesmo assim, manteve-se atuante nos bastidores da oposição. Em 2024, sua imagem ganhou nuances. Ela passou a dialogar com críticos internos e cresceu entre os eleitores comuns, que passaram a enxergar suas dificuldades como reflexo da opressão enfrentada por toda a população.
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