Sob pressão e desgaste interno, Ucrânia concorda em avaliar proposta que prevê concessões territoriais
Fábio Bouéri

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, durante reunião com representante dos EUA | Foto: Reprodução/X
O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, afirmou nesta quinta-feira, 20, que vai aceitar discutir um plano de paz baseado em pontos negociados entre representantes de Vladimir Putin e membros do governo Donald Trump. Depois de receber uma delegação das Forças Armadas dos Estados Unidos em Kiev, ele declarou que equipes ucranianas e norte-americanas trabalharão na proposta para tentar encerrar a guerra.
A sinalização ocorre em um momento de pressão intensa. Zelenski enfrenta o avanço das tropas russas no front, a retomada da postura pró-Moscou por parte de Trump e um cenário político doméstico sob desgaste por um escândalo de corrupção no setor de energia. Até então, o presidente apostava no apoio de aliados europeus, que mais cedo rejeitaram o arranjo encaminhado por Washington.
Ucrânia e a defesa dos aliados
Segundo divulgaram na véspera veículos de imprensa ocidentais, o plano teve a articulação preliminar e sigilosa entre o representante dos EUA Steve Witkoff e o negociador russo Kirill Dmitriev. A iniciativa buscava medir a receptividade internacional antes de qualquer anúncio formal.
Líderes europeus reagiram imediatamente. O chanceler francês, Jean-Noel Barrot, afirmou que a busca pela paz não pode significar a rendição da Ucrânia. O ministro das Relações Exteriores da Polônia, Radoslaw Sikorski, reforçou que o país sob ataque não pode receber punição no processo. Já a chefe da diplomacia da União Europeia, Kaja Kallas, evitou críticas diretas ao conteúdo, mas insistiu que ucranianos e europeus devem participar de todas as negociações.
O governo alemão adotou a mesma linha. O chanceler Johan Wadephul telefonou para Witkoff e, segundo seu relato, ouviu do americano que a Europa terá papel relevante nas etapas seguintes.
De acordo com as informações já conhecidas da proposta de 28 pontos, transmitida verbalmente por Witkoff ao ex-ministro da Defesa ucraniano Rustem Umerov, o plano prevê a cessão dos cerca de 15% restantes do Donbass ainda sob controle de Kiev, além do congelamento das posições atuais no campo de batalha. Na prática, isso consolidaria os ganhos territoriais da Rússia desde o início da invasão em 2022.
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