Sheikh Hasina foi acusada de ordenar uso de força letal para reprimir protestos; 1,4 mil pessoas morreram
Loriane Comeli

Sheikh Hasina é a ex-primeira-ministra de Bangladesh | Foto: Reprodução/Wikimedia
A ex-primeira-ministra de Bangladesh Sheikh Hasina, de 78 anos, foi condenada à morte por crimes contra a humanidade. A decisão é do Tribunal Penal Internacional de Bangladesh, sediado em Daca, capital bengali, é desta segunda-feira, 17.
A Corte considerou Hasina e vários dos seus principais assessores culpados de crimes contra a humanidade, incluindo incitar e instigar a violência organizada contra estudantes que protestavam pacificamente em julho e agosto de 2024, e de conspirar para o assassinato de civis, entre outras acusações.
O julgamento ocorreu com segurança reforçada e sem a presença de Hasina, que fugiu para a Índia em agosto de 2024. Ela comandou o país por 15 anos, com um autoritarismo crescente, segundo analistas internacionais. A ex-premiê pode recorrer à Suprema Corte de Bangladesh.
Defesa de Hasina
Em uma declaração feita antes de sua condenação, Hasina negou categoricamente todas as acusações e disse que não lhe foi dada uma oportunidade adequada para se defender. “Trata-se de um tribunal de fachada, presidido por um governo não eleito, cujo objetivo é proferir um veredicto de culpa predeterminado e desacreditar um adversário político”, disse. “Pretendo enfrentar meus acusadores em um tribunal adequado, onde as provas possam ser avaliadas e examinadas de forma justa”.
O tribunal foi criado por Hasina em 2010 para julgar crimes contra a humanidade relacionados à guerra de independência de Bangladesh contra o Paquistão, em 1971. Ele já aplicou a pena de morte em diversos casos anteriores.
Durante o julgamento, a defesa de Hasina classificou o processo como parcial e politicamente motivado. “O governo perdeu o controle da situação” durante o levante estudantil, mas “não é possível caracterizar o que ocorreu como um ataque premeditado contra cidadãos”, afirmaram os defensores públicos nomeados para defender a ex-primeira-ministra.
O filho e assessor de Hasina, Sajeeb Wazed, declarou à Reuters que só recorreriam se um governo eleito democraticamente assumisse o poder com a participação da Liga Awami.
As ações: 1,4 mil mortes em protestos, segundo estimativa da ONU
Segundo promotores, Hasina teria dado ordem direta para o uso de força letal na repressão a protestos estudantis entre julho e agosto de 2024. A ONU estima que até 1,4 mil pessoas morreram entre 15 de julho e 5 de agosto de 2024. A maioria teria sido atingida por disparos das forças de segurança. Milhares de manifestantes ficaram feridos nesse período.
Imagens dos protestos de 2024
As manifestações começaram como um movimento de estudantes contrários ao sistema de cotas para vagas no serviço público. O governo de Hasina classificou os manifestantes como criminosos, terroristas e traidores. A estratégia, porém, teve efeito inverso e acabou levando ainda mais pessoas às ruas.
Em poucos dias evoluíram para protestos mais amplos, que passaram a exigir o fim do regime autoritário da premiê. As mobilizações expuseram a profunda insatisfação geral do país, que há anos enfrenta inflação elevada e um cenário persistente de desemprego.
O futuro de Bangladesh
A sentença de execução ocorre a poucos meses das eleições marcadas para fevereiro, quando o próximo primeiro-ministro será eleito. A expectativa é de um pleito livre e justo, o que não acontecia nos últimos anos.
Antes das eleições de 2024, o governo de Hasina prendeu dezenas de opositores, levando o principal partido rival a boicotar a disputa. Agora, no governo interino, chefiado pelo ganhador do Nobel da Paz Muhammad Yunus, o partido da ex-premiê, a Liga Awami, está proibido de participar do pleito.
As iniciativas de Yunus para promover reformas democráticas avançaram pouco. Embora ele tenha criado 11 comissões encarregadas de sugerir mudanças em instituições como a polícia e o Judiciário, poucas medidas saíram do papel, e o otimismo com transformações profundas perdeu força.
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