Réus são acusados de espalhar que a primeira-dama teria nascido homem
Mateus Conte

Presidente da França, Emmanuel Macron, e sua mulher, Brigitte | Foto: Reprodução/Flickr
O Tribunal Criminal de Paris começou nesta segunda-feira, 27, o julgamento de dez pessoas acusadas de assédio virtual contra a primeira-dama francesa, Brigitte Macron. Os réus, oito homens e duas mulheres, têm entre 41 e 65 anos e são acusados pelas autoridades de serem responsáveis por disseminar, nas redes sociais, a alegação de que a mulher do presidente Emmanuel Macron teria nascido homem.
A investigação começou depois de uma queixa apresentada pela própria Brigitte em agosto de 2024. De acordo com o Ministério Público de Paris, os acusados fizeram “diversas declarações maliciosas sobre o gênero e a sexualidade” da primeira-dama, além de associarem a diferença de idade entre ela e o presidente (24 anos) à “pedofilia”. Se condenados, podem pegar até dois anos de prisão.
Segundo os promotores, as publicações ofensivas incluíam frases como “afirmo que Brigitte é um homem” e “um velho travesti”. A primeira-dama, de 72 anos, não compareceu à audiência, mas, conforme informou seu advogado, Jean Ennochi, poderá ser representada pela filha, Tiphaine Auzière, chamada a depor.
Justiça francesa atribui atividades a “gabinete do ódio”
Entre os acusados está o publicitário francês Aurélien Poirson-Atlan, de 41 anos, conhecido nas redes sociais pelo pseudônimo “Zoé Sagan”. Ele acumulou cerca de 200 mil seguidores na plataforma X antes de ter a conta suspensa. Segundo a imprensa francesa, “Zoé” era uma identidade fictícia feminina usada para divulgar teorias conspiratórias e “revelações” contra políticos e figuras públicas. Durante o intervalo da audiência, Poirson-Atlan declarou à imprensa que o caso representa uma forma de “assédio inverso”.
Outra figura central no processo é Delphine Jégousse, de 51 anos, médium e youtuber conhecida como “Amandine Roy”. Ela ficou conhecida depois de publicar, em 2021, uma entrevista de quatro horas com a jornalista Natacha Rey. No vídeo, as duas afirmavam que Brigitte seria uma mulher transgênero cujo nome de nascimento teria sido Jean-Michel, nome real do irmão da primeira-dama.
A gravação viralizou rapidamente e acumulou centenas de milhares de visualizações em poucos dias. Em setembro de 2024, ambas foram condenadas por difamação e obrigadas a pagar indenizações à família Macron, mas foram absolvidas em julho deste ano, em decisão agora contestada na Corte de Cassação.
Alegações atravessaram o oceano
As teorias sobre o gênero da primeira-dama surgiram em 2017, durante a primeira eleição de Macron. O boato ganhou força em 2021, quando foi publicado pela revista francesa Faits et Documents e, posteriormente, disseminado em redes sociais.
No ano seguinte, o rumor atravessou fronteiras e passou a circular amplamente nos Estados Unidos. A comentarista política de direita Candace Owens lançou a série Tornando-se Brigitte, em que afirmou que a primeira-dama teria “nascido homem”. Em março de 2024, Candace declarou: “Colocaria toda a minha reputação profissional em jogo na afirmação de que Brigitte é, de fato, um homem”.
A série alcançou mais de um bilhão de visualizações em menos de três meses. Diante da repercussão, o casal presidencial francês moveu um processo de difamação contra Candace nos Estados Unidos, em julho de 2024. O advogado do casal, Tom Clare, afirmou que os Macrons estão dispostos a apresentar “provas científicas” e fotografias para comprovar que Brigitte nasceu mulher.
As mesmas alegações reproduzidas por Candace foram amplamente compartilhadas pelos réus sob julgamento em Paris. Um deles publicou que “duas mil pessoas” estariam prontas para ir “de porta em porta em Amiens”, cidade natal do casal Macron, para “descobrir a verdade sobre o caso Brigitte”.

Janja e o presidente da França, Emmanuel Macron | Foto: Reprodução/Twitter/X
Brigitte Macron alega impacto pessoal
A defesa de Delphine argumentou que o processo foi movido de forma injusta. “Pensamos que é apenas um problema de liberdade de expressão e não um problema de ciberassédio”, afirmou a advogada Maud Marian.
Brigitte declarou anteriormente que os rumores tiveram forte impacto pessoal. “Todas essas alegações tiveram um efeito profundo sobre mim e sobre o meu círculo”, afirmou. “Não há uma única viagem internacional em que alguém não mencione o assunto e não existe um cônjuge de chefe de Estado que não tenha ouvido falar disso.”
Macron também se manifestou sobre o episódio. Em discurso no Dia Internacional da Mulher, em março deste ano, ele afirmou que “o pior é a desinformação e os cenários fabricados”, pois “as pessoas acabam acreditando neles”.
O julgamento deve continuar ao longo da semana. Caso condenados, os réus poderão cumprir pena de até dois anos de prisão e pagar multas por difamação e assédio virtual.
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