Condenado por conspiração, Nicolas Sarkozy é preso na França

Ex-líder político se torna 1º ex-presidente francês preso desde a Segunda Guerra Mundial, por caso de financiamento líbio

Lucas Cheiddi

Nicolas Sarkozy, no EPP Summit, em Bruxelas, em fevereiro de 2015 | Foto: Reprodução/Flickr/European People's Party

A entrada do ex-presidente da França Nicolas Sarkozy na prisão de La Santé, em Paris, nesta terça-feira, 21, marca um fato inédito na história recente do país. Condenado a cinco anos de detenção por envolvimento em conspiração criminosa para obter recursos da Líbia durante sua campanha de 2007, ele se tornou o primeiro ex-chefe de Estado francês a ser encarcerado desde a Segunda Guerra Mundial.

O ex-presidente, de 70 anos, chegou ao presídio acompanhado de sua mulher, Carla Bruni, depois de deixar sua residência sob aplausos de apoiadores. Antes de seguir para La Santé, Sarkozy saudou simpatizantes reunidos a pedido da família e recebeu escolta de forte aparato policial pelas ruas da capital francesa.

Reações depois da condenação de Sarkozy

Nicolas Sarkozy ainda pode recorrer do processo | Foto: Flickr/UMP Photos

Sarkozy, que recorre da sentença, contestou tanto a condenação quanto a decisão do magistrado de mantê-lo preso enquanto aguarda julgamento do recurso. Em mensagem publicada na rede social X, afirmou que “a verdade triunfará”, mas ressaltou que “o preço a pagar terá sido altíssimo”.

Ao jornal La Tribune Dimanche, declarou que “não tem medo da prisão”. “Vou manter minha cabeça erguida, inclusive diante dos portões de La Santé”, disse. Já ao Le Figaro, afirmou: “Quiseram me fazer desaparecer, isso me faz renascer”.

Durante o julgamento, ocorrido no fim de setembro, o tribunal de Paris responsabilizou ex-ministros Claude Guéant e Brice Hortefeux pela busca de financiamento líbio. Contudo, não encontrou provas suficientes de que Sarkozy estivesse diretamente envolvido ou que recursos líbios tenham sido usados na campanha, que terminou com sua vitória.

O juiz responsável entendeu que o ex-presidente permitiu a aproximação de pessoas conhecidas de autoridades líbias “para obter ou tentar obter apoio financeiro na Líbia com o propósito de garantir financiamento de campanha”, conforme consta nos autos do processo.

Condições na prisão e próximos passos

Os advogados de Sarkozy informaram que ele permanecerá em regime de isolamento, separado dos demais detentos por razões de segurança. “A prisão fortalece sua determinação, fortalece sua raiva de provar que é inocente”, disse o representante Christophe Ingrain, à BFM TV. Ele revelou ainda que Sarkozy pretende escrever um livro sobre sua experiência.

Mesmo depois da condenação, Sarkozy manteve compromissos públicos, frequentou eventos esportivos e familiares e anunciou que seguirá com o exercício de atividades como administrador nos grupos Lagardère e Accor. Sua defesa apresentou um pedido de liberdade logo depois da detenção.

O presidente Emmanuel Macron recebeu Sarkozy no Palácio do Eliseu poucos dias antes da prisão e declarou: “Sempre fiz declarações públicas muito claras sobre a independência da autoridade judicial”. “Mas seria normal que, do ponto de vista humano, recebesse um dos meus antecessores neste contexto”, concluiu o líder francês.