Grupo desenvolveu capacidade alcançar profundidades de até 70 metros e permanecer submersos por até 13 minutos
Por Jair Mendonça Jr

- Foto: Reprodução internet
O povo Bajau, conhecido também como Sama-Bajau ou "Nômades do Mar", é um grupo étnico austronésio (povos indígenas) que habita as águas costeiras do Sudeste Asiático há mais de mil anos, principalmente entre as Filipinas, Malásia e Indonésia.
Uma pesquisa, liderada pela cientista Melissa Ilardo, da Universidade de Copenhague e publicada na revista científica Cell, descobriu que os Bajau desenvolveram baços maiores (um reservatório natural de glóbulos vermelhos oxigenados que é contraído durante o mergulho para liberar oxigênio extra na corrente sanguínea) e identificou também variações genéticas específicas, como o gene PDE10A, que provavelmente contribuem para essa capacidade de mergulho superior.

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O estudo constatou que o povo Bajau leva um estilo de vida marítimo-nômade, vivendo em embarcações chamadas lepa-lepa. Atualmente, muitos se estabeleceram em assentamentos permanentes de casas sobre palafitas construídas em recifes rasos ou em vilarejos costeiros.

Crianças da etnia bajau na Malásia | Foto: Hazize San/Wikimedia Commons
Conforme o estudo, a vida dos "Nômades do Mar" está ligada ao mar, que é sua principal fonte de alimento e sustento. Eles dependem da pesca e da caça submarina de peixes, moluscos e pepinos-do-mar.

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As crianças Bajau aprendem a nadar desde muito jovens, muitas vezes antes de aprenderem a andar em terra. Os mergulhos são realizados sem o uso de tanques de oxigênio (mergulho livre ou apneia). Alguns indivíduos relatam sentir "enjoo de terra" quando passam longos períodos em solo firme.
As habilidades de mergulho em apneia dos Bajau, que lhes permitem alcançar profundidades de até 70 metros e permanecer submersos por até 13 minutos, foram objeto de estudo científico.

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O estudo revelou que os Bajau possuem baços aproximadamente 50% maiores em média do que os de populações vizinhas que vivem em terra (o povo Saluan). O baço atua como um reservatório de glóbulos vermelhos oxigenados. Durante o reflexo de mergulho, a contração do baço libera essas células na corrente sanguínea, aumentando a disponibilidade de oxigênio para os órgãos vitais e prolongando a capacidade de prender a respiração.
As crianças Bajau demonstraram na pesquisa possuir uma capacidade visual debaixo d'água superior à de crianças de outras populações, adaptando seus olhos para contrair as pupilas de forma a melhorar a visão em ambientes aquáticos.
Para facilitar a equalização da pressão durante mergulhos profundos e frequentes, é comum que muitos Bajau intencionalmente perfurem seus tímpanos desde jovens, uma prática que frequentemente resulta em perda auditiva na velhice.
A pesquisa também faz um alerta sobre a vida tradicional dos Bajau, que está ameaçada por fatores como a pesca industrial e destrutiva (incluindo o uso de dinamite), que esgotam os recursos marinhos e destroem os recifes de coral. Além disso, a pressão dos governos para que se fixem em terra levou à marginalização e, em alguns casos, à falta de reconhecimento de cidadania nos países em cujas águas navegam.
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