Candidatos põem fim a ciclo de quase duas décadas de socialismo
Fabio Boueri

A Bolívia vai ter um segundo turno inédito nas suas eleições presidenciais. Pela primeira vez desde 2006, nenhum candidato do Movimento ao Socialismo (MAS) conseguiu chegar à fase final da disputa.
Divulgados na noite deste domingo, 17, os resultados preliminares de boca de urna da Ipsos-Ciesmori e da Captura Consulting apontam dois nomes da direita na corrida pelo Palácio Quemado, em outubro: Rodrigo Paz, senador de centro-direita pelo Estado Tarija, e o ex-presidente Jorge “Tuto” Quiroga.
Enquanto a direita vive sua ascensão, o campo da esquerda é o retrato do fracasso em meio a uma combinação de fatores políticos e econômicos desastrosos. O país enfrenta inflação acima de 20%, tem queda nas reservas internacionais e desabastecimento de combustíveis.
O milionário Samuel Doria Medina, favorito em todas as pesquisas até uma semana atrás, terminou em terceiro, com mais de 19%. Na sequência da votação, ficaram o candidato de esquerda Andrónico Rodríguez (8,2%), ex-discípulo de Morales; Manfred Reyes Villa, da aliança de centro-direita APB-Sumate (7,1%); e o candidato governista Eduardo del Castillo (3,2%), ex-ministro do atual presidente Luis Arce. Os demais candidatos não chegaram a 2%.
Bolívia: tentativa de esvaziamento
Governista, o MAS chegou às urnas fragmentado. A Justiça impediu o ex-presidente Evo Morales de participar e ainda expediu mandado de prisão contra ele. Já o atual presidente Luis Arce desistiu de concorrer.
Por isso, sem lideranças unificadas, a legenda perdeu força no campo e entre setores tradicionalmente aliados, como mineiros e cocaleros.
À margem da corrida, Morales estimulou seus seguidores a anularem os votos, o que reduziu ainda mais a participação da esquerda no pleito. A estratégia, segundo analistas, acelerou o processo de esvaziamento da sigla, que vê ruir a hegemonia construída nos últimos 20 anos.
Medida e Quiroga; saiba quem são
Paz, de 55 anos, é filho do ex-presidente Jaime Paz Zamora, que governou a Bolívia entre 1989 e 1993. De trajetória política marcada pelo diálogo e pelo perfil conciliador, Paz se consolidou como uma figura de centro no cenário boliviano. Antes de chegar ao Senado, foi prefeito de Tarija, no sul do país, onde ganhou destaque por defender pautas de gestão moderna e responsabilidade fiscal.
Jorge “Tuto” Quiroga governou a Bolívia entre 2001 e 2002, depois da morte do então presidente Hugo Banzer, de quem era vice. Engenheiro e ex-executivo de multinacional, apresenta-se como um político experiente, com forte ligação com partidos tradicionais e apoio em regiões conservadoras do país. Ao longo da campanha, buscou se consolidar como alternativa de estabilidade política e de integração internacional, defendendo reformas institucionais e maior aproximação com os Estados Unidos.
O impacto na geopolítica
Segundo analistas, uma vitória da direita na Bolívia pode representar uma guinada geopolítica relevante na América do Sul, marcada pelo enfraquecimento da esquerda e pelo consequente isolamento de aliados, como Nicolás Maduro, na Venezuela, Gustavo Petro, na Colômbia, e Lula da Silva.
O país, que possui grandes reservas de lítio e é estratégico na disputa global por energia limpa, passaria a buscar maior aproximação com os Estados Unidos e parceiros liberais da região, como o Paraguai e o Uruguai. Além disso, uma gestão mais alinhada ao livre mercado poderia reduzir a influência da China na exploração mineral boliviana, alterando o equilíbrio de forças sobre um dos recursos mais cobiçados do planeta.
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