Jornal critica uso do Itamaraty pelo governo para rebater The Economist e aponta culto à personalidade como sinal de fraqueza
Yasmin Alencar

Em editorial publicado nesta sexta-feira, 4, o jornal O Estado de S. Paulo criticou duramente a postura do governo Lula diante de um artigo da revista The Economist. O texto afirma que o Itamaraty, “outrora um dos mais respeitados templos da sobriedade diplomática mundial”, foi mobilizado apenas para criticar uma opinião jornalística que ousou não bajular o presidente.
Segundo o jornal, “bater boca com a imprensa virou, tudo indica, uma nova função de Estado em Brasília”, já que o governo tem reagido de forma desproporcional a críticas que nem sequer envolvem acusações graves.
O editorial observa que a The Economist “teve a temeridade de observar o que qualquer um com olhos e memória já percebeu: Lula está mais interessado em liderar o mundo do que o Brasil.”
Para o jornal, em vez de responder com argumentos objetivos, o governo preferiu divulgar uma nota oficial que não corrigiu erros factuais, mas que “compôs um salmo laudatório”, descrevendo Lula como quem sustenta “os quatro pilares essenciais à humanidade e ao planeta: democracia, sustentabilidade, paz e multilateralismo.” O texto ironiza que “faltou um quinto pilar: a humildade – mas este Lula queima em holocausto diário em seu altar pessoal.”
O jornal destaca que a reação do chanceler Mauro Vieira apenas reforça a imagem de um presidente “enamorado de si próprio” e cada vez mais desconectado da realidade. A publicação recorda episódios em que Lula declarou que Deus “deixou o sertão sem água” porque Ele sabia que o petista traria a salvação hídrica, além de ter afirmado que seu corpo sofreu mais que o de Jesus Cristo e que só Jesus “talvez” faria melhor na Presidência. “Para quem se atribui missões celestiais”, escreve o jornal, “não surpreende um chanceler travestido de apóstolo.”
O editorial também questiona a suposta autoridade moral de Lula
O editorial também questiona a suposta autoridade moral de Lula, apontando que “seu compromisso com a paz e o Direito Internacional é tão seletivo quanto seus aliados.” Enquanto é “valente contra Israel”, Lula mantém condescendência com “Putin, Maduro, Ortega e os aiatolás”, que prendem opositores, manipulam eleições e reprimem manifestantes.
Na visão do Estado, “a nota do Itamaraty não desmente a The Economist: a comprova.” O jornal diz ainda que essa postura confirma “a caricatura do estadista messiânico, enamorado de si próprio, descolado da realidade e obcecado em manter o monopólio moral da política.” Para o editorial, isso demonstra que “quando se aciona o Itamaraty para defender Lula da opinião de uma revista, já não se está mais governando: está-se venerando.” E essa atitude, conclui o texto, “é menos uma demonstração de força do que de fraqueza.”
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