Para Rubens Barbosa, 'não há mais regras previsíveis no comércio internacional'
Lucas Cheiddi

Donald Trump, presidente dos EUA, na Casa Branca, em Washington, D.C. (22/5/2025) | Foto: Reuters/Evelyn Hockstein
O ex-embaixador Rubens Barbosa analisou a condição do Brasil, depois de o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar a imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. Para o diplomata, a orientação seria buscar diálogo direto com os norte-americanos.
À CNN, Barbosa defendeu que a negociação é a única saída possível. Ele observou, ainda, que o cenário global mudou e que antigas regras do comércio internacional deixaram de vigorar desde a chegada de Trump ao poder.
“Não há mais regras previsíveis do comércio internacional”, disse. “Não há mais a OMC [Organização Mundial do Comércio] para recorrer.”
Motivações políticas e riscos para o Brasil
O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva | Foto: Marcelo Camargo/Agência BrasilNa avaliação do ex-embaixador, a tarifa imposta ao Brasil reflete motivações políticas, com questões ligadas ao ex-presidente Jair Bolsonaro e até pressões das grandes empresas de tecnologia. Ele alerta para eventuais regulamentações brasileiras, que podem gerar atritos com interesses da indústria e do mercado dos EUA.
Barbosa cita exemplos de países e blocos, como México, Canadá, União Europeia e Coreia, que tentaram inicialmente enfrentar os Estados Unidos, mas acabaram por retomar o diálogo. “Não tem alternativa”, afirmou o diplomata, além de destacar que apenas a China conseguiu resistir, por ser grande potência e principal parceira comercial dos EUA.
Desafios de comunicação e propostas de negociação
Outra preocupação de Barbosa é a falta de canais abertos entre Brasil e Estados Unidos, tanto no governo norte-americano quanto no Departamento de Estado.
“Como você pode imaginar o Brasil, uma potência média, líder na América do Sul, com um comércio de U$ 90 bilhões com os Estados Unidos, não conversar?”, questionou o ex-embaixador.
Como estratégia, ele sugere que o Brasil pode propor cortes tarifários sobre itens como etanol, atualmente sujeito a tarifa de 18% para importação dos EUA, e remover obstáculos não tarifários sobre mercadorias norte-americanas. Ele ressalta que negociar não implica submissão, mas, sim, a defesa do interesse nacional.
Ao encerrar, Barbosa destacou a transformação do comércio internacional desde o governo Trump. “Não existe mais regras estáveis e previsíveis no comércio internacional”, avaliou. “Agora é a lei da selva, a lei do mais forte, e a gente ou entra nessa nova situação, ou nós vamos sofrer muito mais.”
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