Lúcia Camargo Nunes de São Paulo
Associadas estão com dificuldade de achar peças de reposição
O alerta veio da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla). As associadas estão com dificuldade de achar peças de reposição, como faróis, lanternas, para-brisas e para-choques, com a rapidez que a atividade necessita. Isso porque a pandemia de Covid-19 provocou o desabastecimento do mercado, em virtude da desaceleração das indústrias.
De acordo com o presidente da entidade, Paulo Miguel Junior, um simples farol avariado ou uma mangueira furada podem manter um veículo parado por semanas. Como o carro é a principal “matéria-prima” das locadoras, uma demora de 60 dias para a reposição de uma peça representa uma perda que pode chegar a 20% de toda a vida útil do veículo.
Por causa disso, a entidade selou parceria com a Autoglass, empresa especializada em para-brisas, vidros, películas, palhetas, faróis, lanternas, lâmpadas, retrovisores, para-choques e higienização de ar-condicionado. Nesse acordo, associados da Abla conseguem adquirir componentes a pronta entrega por preços diferenciados.
A empresa tem mais de 70 lojas e 900 credenciados. Para atender tamanho mercado, a Autoglass possui 22 centros de distribuição, que garantem entregas em até 24 horas. “Manter o estoque completo já faz parte de nossa estratégia de negócio. Nossos estoques se tornaram ainda mais importantes, para fortalecer nosso trabalho com grandes parceiros, como a Abla”, afirma Flávio Cezario, vice-presidente da Autoglass.
Escassez de mercadoria
Quem mais sofre nessa cadeia são os varejistas médios e pequenos. O sócio-diretor da Auto Bahia, Marcelo Ramon Gesteira Ferreira, afirma que o comércio varejista baiano enfrenta baixas no estoque. “Nosso ramo não parou nesta quarentena, apesar das restrições da prefeitura em fechar alguns bairros. Tivemos uma queda brusca de movimento, mas fomos privilegiados por não parar. Agora houve uma retomada, não como era antes, na faixa dos 70% do que faturávamos. Ainda assim, temos dificuldade de encontrar peças. A falta é geral, mas principalmente a linha que vai no chão, como pneus, suspensão, itens de direção”, explica. Ele diz que “os carros têm ficado parados nas oficinas”. Além de vender peças, a empresa usa os componentes nos autocenters da rede.
Aumento de preço
Bateria foi um dos itens mais vendidos nos últimos meses. “Como as pessoas não saíam de casa, o carro ficava parado. E, sem uso, a bateria danifica, sofre sulfatação. Não carrega. Tivemos um aumento de 50% nas vendas de baterias”, comenta o diretor da Auto Bahia. Outro aumento foi nas entregas. Por causa do momento, o sistema de delivery foi aprimorado e ampliado para 24 horas.
Ferreira estima que o mercado vai demorar para se recuperar. “Se falta peça, não vende. Conseguimos suprir um pouco disso com parceiros pelo Brasil e América do Sul, mas precisamos procurar. Isso toma tempo e onera os custos. Já houve aumento de preços”.
Mas a médio prazo as perspectivas são melhores. “Não vejo este ano chegar ao patamar do que era antes. Acredito que no final do ano e férias, muitas pessoas, em vez de viajar para fora ou de avião, vão preferir utilizar seus carros, e o movimento pode aumentar e voltar ao normal”, conclui Ferreira.
Para empresas maiores, a realidade é diferente. Apesar da escassez de alguns componentes, O Varejão Auto Peças conseguiu manter bons níveis de estoques. O diretor da rede, Hugo Santiago, conta que a empresa havia comprado muita mercadoria, para inaugurar uma loja em São Marcos. “Quando começou a pandemia, estávamos com o estoque reforçado. Com nove lojas, temos um estoque maior, para afastar qualquer sazonalidade”, explica.
Embora não tenha sido atingido, Santiago diz que percebeu um aumento significativo de preço no mercado, por causa do câmbio – o setor é muito dependente da importação – e escassez de produtos. “Isso refletiu em nossas vendas, porque muitos clientes não habituais migraram, por conta do estoque que a gente tinha. Ouvimos muito sobre falta de peças”, relata.
Distribuidores
Em abril, momento crítico de incertezas, o faturamento do Varejão caiu 60%. “Demos férias coletivas, porque estávamos na iminência de fechar, depois fomos considerados essenciais e não fechamos e, mesmo assim, em nenhum mês conseguimos ficar com todas as lojas abertas. Neste momento, a loja de São Cristóvão está fechada, por causa do decreto municipal. “Toda a rede foi impactada pelas interdições de bairros”, afirma o diretor.
A partir de maio, ele percebeu a demanda voltando à normalidade, sem saber se é uma retomada dos consumidores ou porque outras lojas estão sem mercadoria e recorrem à sua rede para repor estoque. “Nós somos distribuidores, compramos diretamente da fábrica. Então, lojas menores, regionais e de bairro se abastecem da gente”, conta.
O Varejão percebe a baixa disponibilidade da indústria em fornecer autopeças. “Os pedidos que fazemos às fábricas não são atendidos em sua totalidade, percebemos falta de mercadorias, mas nosso leque de fornecedor é maior, então, substituímos marcas. A normalidade ainda não existe na cadeia de suprimento”, constata Hugo Santiago.
Itens de revisão básica são os que têm maior demanda. “Temos estoque para 120 dias e está normalizando. Como a demanda retraiu muito em abril e maio, meu estoque esticou um pouco o tempo de duração. O aquecimento de junho e julho, porém, deixou a lanterna ligada: antecipamos compras sem ter necessidade. Então hoje o Varejão não tem a insegurança de não ter mercadoria. A cadeia de abastecimento deve voltar ao normal até outubro”, pondera o diretor.
Agosto tinha tudo para ser seu melhor mês de venda, não fosse a interdição da loja de São Cristóvão. “Isso nos deixou um pouco abaixo de nosso mês histórico, mas, como inauguramos a unidade de Feira de Santana, estamos mais otimistas para setembro”, conclui Santiago.
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